Anualmente, no dia 7 de abril, celebramos o Dia Mundial da Saúde. A data é escolhida em razão de ser a data de constituição da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Nos dias atuais, em meio à pandemia de coronavírus, mostra-se relevante o conceito de “Saúde Única” (One Health), que trabalha com a premissa de que a saúde humana, a saúde animal e a saúde ambiental estão interligadas, sendo necessário que as medidas de saúde sejam pensadas como um todo, e não isoladamente.
O conceito de Saúde Única data do início dos anos 2000, porém a ideia de que a saúde da população está ligada ao ambiente remonta à antiguidade grega, sendo defendida por Hipócrates – considerado o pai da Medicina.
A ideia de Saúde Única decorre da íntima interação entre o meio ambiente, os seres humanos e os animais, e do fato que esta interação é responsável pela transmissão de agentes infecciosos entre as espécies, levando à ocorrência de zoonoses.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), 60% das doenças humanas são zoonoses, sendo que ao menos 75% das doenças infecciosas possuem origem animal, aparecendo na ordem de 05 novas doenças ao ano.
Ainda, situações de desastres ambientais também pode ser um fator que contribui para o aparecimento de novas doenças, o aumento de transmissão e configuração de epidemias.
Para a OMS, o controle de zoonoses é a forma mais eficaz e econômica de proteger a população humana, devendo ser promovida na forma de políticas públicas de saúde.
Para a efetividade do conceito de Saúde Única elaboram-se políticas, legislações e pesquisas de forma coordenada entre profissionais de saúde dos três setores afetados: humano, animal e ambiente.
No Brasil, no campo de atuação do SUS, estão previstas, previstas diversas ações interdisciplinares com o fim de promoção da saúde, entre elas: ações de vigilância sanitária, de vigilância epidemiológica, a participação na formulação da política e na execução de ações de saneamento básico, a colaboração na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho, a formulação da política de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos e outros insumos de interesse para a saúde e a participação na sua produção, a fiscalização e a inspeção de alimentos, água e bebidas para consumo humano.
Cabe ressaltar que a legislação do SUS também prevê que se entende por “vigilância sanitária” o “conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde”.
Ainda, dentro da Política Nacional de Atenção Básica, temos os Núcleos de Apoio à Saúde da Família que poderão ser compostos por profissionais de diversas áreas da saúde, reforçando a ideia de que a interdisciplinariedade é o melhor caminho para a saúde humana.
No mesmo sentido, o Conselho Nacional de Saúde reconhece quatorze profissões como profissionais da saúde, reconhecendo expressamente a importância da ação interdisciplinar no âmbito da saúde e a imprescindibilidade das ações realizadas por todos estes profissionais.
A relação do atual surto de coronavírus com esse conceito tão importante se dá em razão da suspeita de que o vírus tenha se originado em um mercado em Wuhan, na China, onde animais vivos são comercializados e abatidos sem rigorosa fiscalização sanitária.
Sendo assim, o cenário atual serve para reforçar a indissociabilidade entre a saúde humana, animal e ambiental, de forma que deve ser estimulada a promoção de políticas públicas com ações integrativas pelos profissionais de todas as áreas da saúde.
Este texto foi elaborado para a Associação Law Talks
Imagens retiradas do site da World Organization for Animal Health
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